João Pessoa, 21 de setembro de 2025
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Educação Bilíngue para Surdos é debatida na Câmara de João Pessoa
19.09.2025
Secom CMJP
Olenildo Nascimento

A sessão especial foi proposta pela vereadora Eliza Virgínia (PP)

A Câmara Municipal de João Pessoa (CMJP) discutiu, na manhã desta sexta-feira (19), o tema ‘Educação Bilíngue para os Surdos’, em sessão especial alusiva ao Dia Municipal dos Surdos, celebrado anualmente em 26 de setembro. A vereadora Eliza Virgínia (PP) propôs o debate, que contou com a participação de professores, alunos, gestores e especialistas ligados ao assunto.

A vereadora afirmou que vai dispensar esforços para implementar intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (Libras) na Casa. Na ocasião, ela fez uma apresentação, através de slides, sobre o tema, destacando que o termo surdo-mudo precisa ser banido, já que a surdez não acarreta problemas no aparelho fonador (na fala). A apresentação também ressaltou que a língua de sinais foi instituída em 2015; que a profissão de tradutor e intérprete da Libras foi regulamentada em 2010; e que a linguagem não é uma versão visual ou simplificada do Português Brasileiro, são duas línguas diferentes.

“Na última Gestão Federal houve uma maior visibilidade da Libras na sociedade. A educação de surdos é uma questão de grande relevância, mas também um dilema da sociedade, pois os pais divergem sobre ter uma escola inclusiva, bilíngue ou uma direcionada para os surdos”, arguiu.

Ainda na apresentação, foi destacado que nas escolas bilíngues a Libras é a primeira língua e o Português a segunda, com professores fluentes na língua de sinais, além de estrutura adaptada com foco na identidade surda, para assegurar melhor desenvolvimento cognitivo e a inclusão. “Antigamente, havia uma escola direcionada para a áudio comunicação, mas, a escola inclusiva foi implementada e os alunos direcionados à inclusão. No entanto, é preciso uma escola bilíngue para garantir a educação das crianças surdas. Existem as escolas Leonel Brizola e Celso Furtado com salas bilíngues para os surdos. Eu tentei incluir Libras como uma disciplina para criar empatia entre os alunos, mas não consegui. A escola bilíngue é o futuro”, assentiu.

A vereadora sugeriu que os representantes das entidades ligadas ao assunto fizessem um abaixo-assinado para solicitar a implementação de intérprete de Libras na CMJP. Ela ainda destacou que elaborou um projeto que institui a campanha ‘Vizinho Consciente’, que traz sugestões sobre como as pessoas podem interagir com pessoas com necessidades específicas, incluindo os surdos.

O professor de Libras, Iraquitan Bernardino, agradeceu pela luta pelos direitos dos surdos, incluindo a educação. “Como surdo e representante da comunidade, sempre interagi para dar valor a nossa língua. Não tive intérprete na época que estudava. Precisamos de apoio às pessoas surdas. Agradeço a todos pelo contato e pela defesa de nossas questões. Confio na Secretaria de Educação de nossa cidade, que vem fazendo um trabalho fantástico de inclusão”, elogiou.

Rejane Lira, representante da secretária da Educação Municipal de João Pessoa, América de Castro, externou sua alegria de fazer parte da sessão especial em alusão a setembro, mês representativo na luta da pessoa com deficiência, e do dia 26, Dia da Pessoa Surda. “Temos um projeto pioneiro da Secretaria de Educação de João Pessoa nas escolas de tempo integral, com a tentativa do bilinguismo em Libras. Desde 2023, temos duas escolas inclusivas, a Leonel Brizola e Celso Furtado, que são referência no ensino dos estudantes surdos, com instrutores de Libras para os alunos surdos, em conjunto com o intérprete e um professor. Essas duas escolas são um projeto experimental, mas há muito a ser feito e com muitos desafios ainda. Também temos que lutar para formar professores para educar os estudantes dos anos finais, garantindo a formação desses alunos. Há a necessidade de mais profissionais especializados para continuar garantindo a educação dos surdos de nossa cidade”, asseverou.

Representando os alunos surdos da Escola Celso Furtado, Pietra Vitória, de dez anos, agradeceu à Gestão Municipal pela oportunidade de estudar em uma escola bilíngue. Ela destacou a importância da modalidade. “Nós, surdos, nos primeiros passos na escola, nos sentimos sozinhos nos sons que não alcançamos e bocas que não conseguimos entender. No quadro, letras e palavras desconhecidas. Nos sentimos sozinhos, no nosso próprio mundo, um mundo sem som, mesmo sabendo que as palavras estão em todos os lugares. Com esse projeto, tudo mudou. Que maravilha saber o significado das palavras e aprender os conceitos que antes não sabíamos”, ressaltou.

Pietra Vitória enfatizou a importância da Língua Brasileira de Sinais para a comunidade surda. “A Libras é a nossa comunicação com o mundo. Minhas mãos expressam os significados e a felicidade de poder falar para minha mãe que já aprendi a ler; que estou aprendendo português e matemática igual aos meus amigos ouvintes. Tenho na língua o poder de expressar toda a minha alegria, conhecimento, felicidade. Não estou mais sozinha e não preciso mais ficar adivinhando o que falam. Obrigada pela oportunidade do surdo ser protagonista da própria vida, da própria história e sonhar com um futuro cheio de oportunidades”, concluiu a estudante.

A coordenadora das escolas integrais e do projeto Escola Bilíngue para Surdos, Rosângela Melo, ressaltou a importância da sessão e do discurso proferido pela aluna Petra Vitória. “É um momento muito festivo e de representação para a comunidade surda. É uma alegria ver uma estudante surda, do 4º ano, com esse empoderamento, ficamos muito felizes. É um marco histórico da comunidade surda de João Pessoa ter crianças estudantes dos anos iniciais lendo, e isso vem de anos de lutas. Todas essas crianças vão ser testemunhas do nosso trabalho”, declarou Rosângela, enfatizando a necessidade da modalidade também no Ensino Médio.

César Caetano, professor de libras na UFCG e representante da comunidade surda da Paraíba, afirmou que o ex-deputado estadual Nivaldo Manoel, pai da vereadora Eliza, deu o pontapé inicial em benefícios dos quais os surdos puderam desfrutar. “Nivaldo ajudou muito a comunidade surda. Infelizmente, ele não se reelegeu e os instrutores foram demitidos das escolas. Houve uma evasão e, até hoje, a educação é um caos, nesse sentido. Os avanços não foram continuados”, avaliou.

O professor ressaltou a importância da luta pelas escolas bilíngues: “A escola bilíngue não é uma luta fácil para a gente. É muito complexo o ensino e aprendizado dos surdos, que continuam sofrendo na educação inclusiva. A comunidade surda grita pela escola bilíngue. Existe uma diferença da escola bilíngue para a inclusiva. A inclusiva tem o intérprete e o professor oralizando, é algo que não dá para a pessoa se desenvolver”.

Elizangela Lima, que preside a Associação de Surdos de João Pessoa, reforçou que a escola bilíngue permite uma resposta muito melhor do que a inclusiva. De acordo com ela, os surdos acabam sofrendo bullying e sendo excluídos. Para ela, é importante haver mais espaços de capacitação para intérpretes e a presença deles também é necessária no âmbito da saúde. “Vamos brigar por outros espaços”, declarou.

Ao final da sessão, uma turma de estudantes da escola Celso Furtado realizou uma apresentação musical interpretada em Libras da canção ‘A Paz’ (Heal the World), da Banda Roupa Nova.

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